Por Ricardo Munarski Jobim – Advogado – OAB/RS 47.849
Email: ricardo.jobim@jobimadvogados.com.br
Colaboração: Gabriel Martins – Advogado – OAB/RS 111.066
“Eu juro, por Apolo médico, por Esculápio, Hígia e Panacea, e tomo por testemunhas todos os deuses e todas as deusas…”
Qual o limite da vocação? Morrer por ela?
Finalmente, temos tempo. Rara oportunidade de analisar e equilibrar valores.
É triste dizer isso, mas a opinião pública somente é a favor do profissional da saúde quando convém.
Estranha a mudança drástica e repentina de opinião, quando antes os profissionais da saúde realizavam exatamente o mesmo trabalho que exercem hoje, o de salvar vidas.
Alguns hipócritas podem dizer “ah, mas eu sempre defendi a qualidade de trabalho aos profissionais da saúde”. Pergunto: quando você, defensor-mor, fez alguma coisa em prol dos profissionais da saúde, nem que seja umas palminhas nas redes sociais?
Conveniência?
Eu trabalho para profissionais da saúde há bastante tempo e posso garantir que estes profissionais sempre lidaram com inúmeras dificuldades e poucos se interessaram em brigar por melhorias e qualidade da saúde.
Aprendi que quem defende o SUS deve defender quem carrega o sistema. Unicamente, aos profissionais da saúde.
Com a pandemia, a deficiência estrutural cobra o preço: Várias vidas colhidas por impossibilidade de oferecer atendimento adequado.
Alguns políticos hipócritas gostam de usar a classe Médica como bode expiatório. E por incrível que pareça, boa parte da população compra. Nada de novo.
Mas não são só os políticos. Mesmo sem apurar fatos determinados se armou o circo como se todos os Médicos fossem corruptos, dinheiristas, exploradores, etc… (exemplo ocorrido em 2018 quando uma revista conceituada estampou em sua capa que o erro médico era responsável pela maior causa das mortes no Brasil). Até o Poder Judiciário começou a acreditar nessa cadeia difamatória, aplicando o Código de Defesa do Consumidor como se Medicina fosse indústria ou ciência exata.
Sim, este texto quer um ajuste de contas.
Ataques sem dó nem piedade por décadas. Pela mídia e pelas pessoas presunçosas, em nome do interesse midiático ou por mesquinheza mesmo.
Fazia muito pouco que os heróis, únicos responsáveis pela parte boa do SUS e da Medicina de ponta deste país, não recebiam nenhuma palavra de agradecimento.
Na mentalidade dos políticos, saúde dá pouco retorno na proporção real/voto.
Quem perdeu seu familiar querido, entende da pior forma o que quero dizer.
Foi necessário um vírus para que os aplausos atrasados (que são muito bem vindos) acontecessem. De fato, eu comemoro o tardio reconhecimento.
Apesar dos ingratos. Escrevo este texto irritado com um. Os mesmos que sempre disseram que policial que é alvejado não tem mérito, por ter escolhido o ofício, que acham nada demais o bombeiro arriscar sua vida para salvar outras. “Ora, eles ganham pra isso”.
Mesmo que seja gritante que a vocação desses guerreiros esteja acima de suas vidas. Tudo em nome da missão, de algo maior.
Ingrato, vai arriscar tua vida então. Pega tua arrogância e reza pra não ter que rever conceitos no leito de morte.
Minha homenagem às famílias dos profissionais de saúde que morreram no combate a esse vírus maldito. Obrigado soldados, por darem suas vidas por mim.
Mas, infelizmente, de nada adiantará tudo isso se o esquecimento surgir quando as águas acalmarem.
Que tal um pouco de evolução?